Pelo menos um dos doentes precisa tomar o comprimido até amanhã
Não bastasse o drama causado pelo diagnóstico do câncer, aqueles que dependem da medicação da Secretaria de Saúde do DF têm uma preocupação extra. Alguns itens para o tratamento da doença estão com estoque zerado há pelo menos um mês. Um erro em uma licitação causou o problema. Pacientes estão apreensivos com a ausência dos medicamentos nas farmácias da rede. A Secretaria de Saúde admite a falta de alguns itens, mas prevê a normalização da situação em até dois dias.
Os missionários católicos Régis Vieira Silva, 33 anos, e Sâmia Kênia Alencar Dantas, 32 anos, receberam a notícia há dois meses. Régis tem leucemia mieloide aguda m3. A neoplasia é o resultado de uma alteração genética adquirida no DNA de células em desenvolvimento na medula óssea. Ele começou o tratamento no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Lá, Regis ficou internado por 60 dias, período em que não teve problemas para tomar o medicamento receitado.
Antes mesmo de receber alta, o casal soube do falta do tretinoína, o fármaco indicado para o tratamento de Régis. “A informação que chegou até nós é que, para quem estava internado não havia falta. Mas quem não estava no hospital e deveria procurar a farmácia do Hospital de Base, não teria sucesso”, contou. Com base nisso, há um mês eles entraram com uma ação no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e na Defensoria Pública do DF. Duas semanas depois, ele recebeu alta.
O remédio deve ser administrado com intervalos de 15 dias, o que deu um tempo a mais aos dois. Régis precisa tomar o comprimido diariamente por 15 dias e descansar outros 15 dias. Nesse caso, ele deve voltar a tomar as doses amanhã. “Estamos preocupados porque os médicos nos disseram que ele tem 90% de chance de cura com o remédio e 70% de chance de ir a óbito sem ele”, disse Sâmia.
Parentes e amigos estão apreensivos com o fim do prazo para Régis voltar a tomar o tretinoína. Como faz parte de um tipo de quimioterapia, não existem alternativas para o casal. O remédio não é vendido em farmácias comuns. “E, se fosse vendido, um frasco com 100 comprimidos custa em torno de R$ 1,3 mil. Essa quantidade é suficiente para nove dias”, conta a esposa. Há também denúncia de que faltam remédios para quem passa pelo tratamento contra o câncer de mama.
Compra
A Secretaria de Saúde informou, por meio da assessoria de imprensa, que alguns medicamentos para câncer estão em fase de compra. O processo deve ser concluído até o fim da semana, segundo e-mail enviado para a reportagem. “No caso específico da ‘tretinoína’, apesar de estar nessa lista para aquisição, a SES desconhece que algum paciente tenha ficado sem receber a dose”, afirmou a pasta, sem, no entanto, detalhar quais são os outros remédios e quando exatamente eles vão chegar.